segunda-feira, 15 de outubro de 2007

LEITURAS INTERESSANTES - EM VERSO





Padre Zezinho

- Canto Da Mulher Latino-americana

Descreve do jeito que bem entender
Descreve seu moço
Porém não te esqueças de acrescentar
Que eu também sei amar
Que eu também sei sonhar
Que meu nome é mulher

Descreve meus olhos
Meu corpo, meu porte
Me diz que sou forte, que sou como a flor
Nos teus preconceitos de mil frases feitas
Diz que sou perfeita e sou feita de amor

Descreve a beleza da pele morena
Me chama de loira, selvagem, serena
Nos teus preconceitos de mil frases feitas
Diz que sou perfeita e sou feita de mel

Descreve do jeito que bem entender
Descreve seu moço
Porém não te esqueças de acrescentar
Que eu também sei amar
Que eu também sei lutar
Que meu nome é mulher

Descreve a tristeza que tenho nos olhos
Comenta a malícia que tenho no andar
Nos teus preconceitos de mil frases feitas
Diz que sou perfeita na hora de amar

Descreve as angústias da fome e do medo
Descreve o segredo que eu guardo pra mim
Nos teus preconceitos de mil frases feitas
Diz que sou perfeita, qual puro jasmim

Descreve do jeito que bem entender
Descreve seu moço
Porém não te esqueças de acrescentar
Que eu também sei amar
Que eu também sei lutar
Que meu nome é mulher

Descreve, seu moço, a mulher descontente
De ser objeto do macho e senhor
Descreve este sonho que levo na mente
De ser companheira no amor e na dor

Descreve do jeito que bem entender
Descreve seu moço
Porém não te esqueças de acrescentar
Que eu também sei amar
Que eu também sei lutar
Que meu nome é mulher




Erasmo Carlos

Mulher

Dizem que a mulher é o sexo frágil
Mas que mentira absurda
Eu que faço parte da rotina de uma delas
Sei que a força está com elas
Vejam como é forte a que eu conheço
Sua sapiência não tem preço
Satisfaz meu ego se fingindo submissa
Mas no fundo me enfeitiça
Quando eu chego em casa à noitinha
Quero uma mulher só minha
Mas pra quem deu luz não tem mais jeito
Porque um filho quer seu peito
O outro já reclama a sua mão
E o outro quer o amor que ela tiver
Quatro homens dependentes e carentes
Da força da mulher
Mulher, mulher
Do barro de que você foi gerada
Me veio inspiração
Pra decantar você nessa canção
Mulher, mulher
Na escola em que você foi ensinada
Jamais tirei um dez
Sou forte mas não chego aos seus pés


John Lennon

Woman is the nigger of the world

Woman is the nigger of the world
Yes she is...think about it
Woman is the nigger of the world
Think about it...do something about it
We make her paint her face and dance
If she won't be a slave, we say that she don't love us
If she's real, we say she's trying to be a man
While putting her down, we pretend that she's above us
Woman is the nigger of the world...yes she is
If you don't believe me, take a look at the one you're
with
Woman is the slave of the slaves
Ah, yeah...better scream about it
We make her bear and raise our children
And then we leave her flat for being a fat old mother
hen
We tell her home is the only place she should be
Then we complain that she's too unworldly to be our
friend
Woman is the nigger of the world...yes she is
If you don't believe me, take a look at the one you're
with
Woman is the slave to the slaves
Yeah...alright...hit it!
We insult her every day on TV
And wonder why she has no guts or confidence
When she's young we kill her will to be free
While telling her not to be so smart we put her down
for being so dumb
Woman is the nigger of the world
Yes she is...if you don't believe me, take a look at
the one you're with
Woman is the slave to the slaves
Yes she is...if you believe me, you better scream
about it
We make her paint her face and dance.


A mulher é o escravo do mundo
Sim, ela é...pense nisso
A mulher é o escravo do mundo
Pense nisso...faça algo sobre isso
Nós a fazemos pintar o rosto e dançar
Se ela não for uma escrava, dizemos que elas não nos
amam
Se ela é real, dizemos que ela está tentando ser um
homem
Enquanto a colocamos pra baixo, fingimos que ela está
por cima
A mulher é o escravo do mundo, sim ela é
Se você não acredita, dê uma olhada em quem está
contigo
A mulher é o escravo dos escravos
Ah, sim...
Nós a fazemos parir e criar nossos filhos
E depois as deixamos de lado por serem mães gordas
como galinha
Nós dizemos que elas só devem ficar em casa
E depois dizemos que são muito anti-sociais para ser
amigas
A mulher é o escravo do mundo, sim ela é
Se você não acredita, dê uma olhada em quem está
contigo
A mulher é o escravo dos escravos
Ah, sim...
Nós a insultamos todo dia na TV
E nos perguntamos por quê lhe falta coragem ou
auto-confiança
Quando jovens, tiramos delas a promessa de liberdade
Enquanto as mandamos serem pouco inteligentes, as
culpamos por serem tão burras
A mulher é o escravo do mundo, sim ela é
Se você não acredita, dê uma olhada em quem está
contigo
A mulher é o escravo dos escravos
Ah, sim...se você acredita em mim, melhor gritar sobre
isso
Nós a fazemos pintar o rosto e dançar.



Marisa Monte
Pixinguinha / Otávio de Souza

Rosa

Tu és divina e graciosa, estátua majestosa
Do amor, por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor de mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente aqui neste ambiente
De luz, formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração, junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz do arfante
peito teu
Tu és a forma ideal, estátua magistral
Oh alma perenal do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé, a dor em sândalos olentes cheios de
sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela, és mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza
Perdão se ouso confessar-te, eu hei de sempre amar-te
Oh flor, meu peito não resiste
Oh meu Deus, o quanto é triste
A incerteza de um amor que mais me faz penar em
esperar
Em conduzir-te um dia ao pé do altar
Jurar aos pés do Onipotente em preces comoventes
De dor, e receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer de todo fenecer

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Minha mãe
vive na quitanda
vendendo rapaduras.
A mãe do Zeca
foi pra Juazeiro
receber um milagre
do Padim Ciço.
A mãe do Maneu
vende bolo
todas as noites
no centro da cidade.
A mãe do Pedo
foi pro sanatório.
A mãe do Raimundo
foi pro Sul,
fugindo da seca.
A mãe da Maria
foi quebrar coco,
e o fazendeiro
deu uma carreira nela.
A mãe do Chico
foi fazer carvão,
mas a caieira
não pegou fogo.
A mãe do João
está carregando tijolo
no último jumento que tem,
porque os outros,
roubaram pra fazer
uma certa alimentação.

Detratores,eis aí nossa América
em fogo,em sangue,em caos...

Sob a estrela da noite,
uma criança dorme em
jornais do dia.
Sonhando com casa,
comida e família
ela está.

Detratores,eis aí nossa América
em fogo,em sangue,em caos...

Dogival Duarte





Manuel Bandeira

Poema tirado de uma notícia de jornal

João Gostoso era carregador de feira livre
e morava no morro da Babilônia
num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.






Mário de Andrade

A serra do Rola-Moça

A Serra do Rola-Moça
Não tinha esse nome não...

Eles eram do outro lado,
Vieram na vila casar.
E atravessaram a serra,
O noivo com a noiva dele
Cada qual no seu cavalo.

Antes que chegasse a noite
Se lembraram de voltar.
Disseram adeus pra todos
E se puserem de novo
Pelos atalhos da serra
Cada qual no seu cavalo.

Os dois estavam felizes,
Na altura tudo era paz.
Pelos caminhos estreitos
Ele na frente, ela atrás.
E riam. Como eles riam!
Riam até sem razão.

A Serra do Rola-Moça
Não tinha esse nome não.

As tribos rubras da tarde
Rapidamente fugiam
E apressadas se escondiam
Lá embaixo nos socavões,
Temendo a noite que vinha.

Porém os dois continuavam
Cada qual no seu cavalo,
E riam. Como eles riam!
E os risos também casavam
Com as risadas dos cascalhos,
Que pulando levianinhos
Da vereda se soltavam,
Buscando o despenhadeiro.

Ali, Fortuna inviolável!
O casco pisara em falso.
Dão noiva e cavalo um salto
Precipitados no abismo.
Nem o baque se escutou.
Faz um silêncio de morte,
Na altura tudo era paz ...
Chicoteado o seu cavalo,
No vão do despenhadeiro
O noivo se despenhou.

E a Serra do Rola-Moça
Rola-Moça se chamou.




Mário de Andrade

Moça linda bem tratada

Moça linda bem tratada,
Três séculos de família,
Burra como uma porta:
Um amor.

Grã-fino do despudor,
Esporte, ignorância e sexo,
Burro como uma porta:
Um coió.

Mulher gordaça, filó,
De ouro por todos os poros
Burra como uma porta:
Paciência...

Plutocrata sem consciência,
Nada porta, terremoto
Que a porta de pobre arromba:
Uma bomba.




Adélia Prado

Casamento

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.

O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.



Affonso Romano de Sant'Anna

Conjugação

Eu falo
tu ouves
ele cala.
Eu procuro
tu indagas
ele esconde.

Eu planto
tu adubas
ele colhe.

Eu ajunto
tu conservas
ele rouba.

Eu defendo
tu combates
ele entrega.

Eu canto
tu calas
ele vaia.

Eu escrevo
tu me lês
ele apaga.





Florbela Espanca
Fanatismo

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver !
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida !

Não vejo nada assim enlouquecida ...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida !

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa ...
"Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim !

E, olhos postos em ti, digo de rastros :
"Ah ! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus : Princípio e Fim ! ..."


Zé da Luz

Confissão de Cabôco

Seu duotô, sou criminoso.
Sou criminoso de morte.
Tou aqui pra mim intregá.
Voimicê fique sabendo:
– Quando a muié traz a sorte
De atraiçoá o isposo
Só presta para se matá.

Nunca pensei, seu doutô
Qui a mão nêga do distino,
Merguiasse as minhas mão
No sangue dos assarcino!

Vô li pidí um favô
Ante de vossamercê
Mim butá daqui pra fora
:– É a licença do doutô
Pr’eu li contá minha histora.

Sinhô dotô delegado,
Digo a vossa sinhuria
Qui inté onte fui casado
Cum a muié qui im vida
Se chamô ROSA MARIA.

Faz dez mês qui se gostemo,
Faz oito qui fumo noivo
Faz sete qui nós casêmo.

Nós casêmo e nós vivia
Cuma pobre, é verdade,
Mas a gente se sentia
Rico de filicidade!

Pras banda qui nós morava,
No lugá Chã da Cutia,
Morava tombém um cabra
Chamado Chico Faria.

Esse cabra, antigamente,
Tinha gostado de Rosa,
Chegaro, inté a sê noivo,
Mas num fizero a “introza”
Do casamento, prumode
Mané Uréia de bode,
Qui era padrim de Maria
Tê dismanchado essa prosa.

Entoce, o Chico Faria,
Adispois qui nós casêmo,
In cunversa, as vez dizia,
Qui ainda mi dava fim
Pra se casá cum Maria.

Dessa coisa eu sabia,
Mas nunca dei importança.

Tinha toda cunfiança
Na muié qui eu tanto amava,
Ou mais mió, adorava...
Cum toda a minha sustança!

Dispois disso, o meu custume
Era vivê trabaiando
Sem da muié tê ciume.

A muié pru sua vez
Nunca me deu cabimento
Deu pensá qui ela fizesse
Um dia um farcejamento.

Mas, seu doutô, tome tento
No resto da minha histora,
Qui o ruim chegô agora:

Se não me farta a mimora,
Já faz assim uns três mêis,
Qui o cabra, Chico Faria,
Todo prosa, todo ancho,
Quage sempre, mais das vêz
Avistava o meu rancho.

Puralí, discunfiado
Como quem qué e não qué,
Eu fui vendo qui o marvado
Tentava a minha muié.

Eu fui vendo a coisa feia!
Pru derradêro eu já tava
C’a mosca detrás da uréia.

Os tempo foi se passando
E o meu arriceiamento
Cada vez ia omentano.

Seu dotô, vá iscutano:

Onte, já de tardezinha
O meu cumpade,
Quinca Arruda,
Mi chamô pra nós dança
Num samba – lá na Varginha,
Na casa do mestre Duda.

Mestre Duda é um cabôco,
Um tocado de premêra.
É o imboladô de côco
Mió daquela rebêra.

Entonce Rosa Maria,
Sempre gostou de samba,
Mas, porém, de tardezinha
Me disse discunfiada,
Qui pru samba ela não ia,
Qui tava munto infadada,
Percisava se deita...

Ou tentação ou engano
Eu fiquei discunfiado
Cum a preposta da muié!

Dispois qui tomei café,
Cuage puro sem mistura,
Cum a faca na cintura
Fui pru samba, fui sambá.

Cheguei no samba, dotô.
Repare agora, o sinhô,
Quem era qui tava lá?

O cabra Chico Faria.
Qui quano foi me avistando,
Foi logo mi preguntando:
– Cadê siá dona Maria,
Num veio não, pra dançá?

– Não sinhô. Ficô im casa.
Pru cabôco arrispondí.

Senti, entonce uma brasa
Queimano meu coração,
Nunca mais pude tirá
As palavra desse cabra
Da minha maginação.

Perdí o gosto da festa
E dançá num pude não.

O cabra, pru sua vez
Num dançava, seu doutô.
De vez im quando me oiva
Cum um oiá de traidô.

Meia noite, mais ou meno,
Se dispidino do povoDisse:
– Adeus, qui eu já vô.

Quando ele se arritirô,
Eu tombem me arritirei
Atraiz dele, sim sinhô.
Ele na frente, eu atrais.
Se o cabra andava ligêro,
Eu andava munto mais!

Noite iscura qui nem breu!

Nem eu avistava o cabra,
Nem o cabra via eu!
Sempre andando, sempre andando.
Ele na frente, eu atrais.

Já nem se iscutava mais
A voz do fole tocando
Na casa do mestre Duda!

A noite tava mais preta
Qui a cunciênça de Judá!
Sempre andando, sempre andando.
Eu fui vendo, seu doutô,
Qui o marvado ia tumando
Direção da minha casa!

Minha casa!...
Sim sinhô!

Já pertinho, no terrero
Eu mim iscundí pru detraiz
De um pé de trapiazêro.

Abaixadim, iscundido,
Prendi a suspiração,
Abri os óio, os ouvido,
Pra mió vê e ouvi
Qua era a sua intenção.
Seu doutô, repare bem:

O cabra oiando pra traiz,
Do mermo jeito, qui faiz
Um ladrão pra vê arguém,
Num tendo visto ninguém,
Na minha porta bateu!

De lá de dentro uma voiz
Bem baixim arrispondeu...

Ele entonce, cá de fora:

– Quem ta bateno sou eu!
De repente abriu-se a porta!

Aí seu doutô, nessa hora
A isperança tava morta,
Tava morto o meu amô...

No iscuro uma voiz falô agora,
Vá simbora, vá simbora,
Qui quando chegá im casa
Tem munto tempo pra lê.

Quando minhas oiça ouviu,
As palavra qui Maria
Dizia pru disgraçado,
Eu fiquei amalucado,
Fiquei quage cuma loco,
Ou mio, cumo um cabôco
Quando ta chêi de isprito!

Dum sarto, cumo um cabrito,
Eu tava nos pés do cabra
E sem querer dei um grito:

– Miserave! E arrastei
Minha faca da cintura.

Naquela hora dotô,
Eu vi o Chico Faria,
Na bêra da sipurtura!
Mas o cabra têve sorte.

Sempre nessas circunstança
Os home foge da morte.

Correu o cabra, dotô
Tão vexado, qui dêxou
A carta caí no chão!

Dei de garra do papé,
O portadô da traição!

Machuquei nas minha mão,
A honra, douto, a honra
Daquela farsa muié!

Dispois oiando pra carta
Tive pena, pode crer,
De num tê prindido a lê.
Nas letra alí iscrivida
O qui dizia Maria
Pru marvado traidô.

Tive pena, sim sinhô.
Mas, qui haverá de fazê
Se eu nunca prindí a lê?

Maria mi atraiçuô!

Essa muié qui um dia,
Juêiada nos pé do artá
Jurou im nome de Deus
Qui inquanto tivesse vida,
Haverá de mim honrá
E mim amá cum todo amo.

Cum perdão do seu doutô.
Quando eu vi a miserave
Na iscurideza da noite
Dos meu oio se iscondê
Sem dêxá nem sombra inté
Entrei pra dentro de casa
Pra mi vingá da muié.

Douto, qui hora minguada!
Maria tava ajuêiada,
Chorando, cum as mão posta
Cumo quem faz oração.
Oiando pra eu pedia,
Pelo cali, pela osta,
Pru Jesus crucificado,
Pelo amo qui eu li amava
Qui num fizesse isso não.
Eu tava, doutô, eu tava
Cego de raiva e paixão.

Sem dizê uma palavra,
Agarrei nas suas mão,
Levantei ela pra riba
E interrei inté o cabo,
O ferro da parnaíba
Pru riba do coração!

Sarvei a honra, doutô,
Sarvei a honra, apois não!

Dispois qui vi a Maria
Caí sem vida no chão,
Vim fala cum vosmicê,
Vim cunfessá o meu crime
E mim intregá as prisão.

Se o sinhô num acredita
Se eu sô criminoso ou não,
Tá aqui a faca assarcina
E o sangue nas minhas mão.

Cumo prova da traição,
Tá aqui a carta, doutô.
Li peço um grande favô:

Ante de vossa-sinhuria
Mi mandá lá para prisão
Me lêia aqui essa carta
Pr’eu sabê cumo Maria
Perparava essa trição!

A CARTA

“Seu Chico:

Chã da Cutia.

Digo a vossa senhoria
Que só lhe escrevo essa carta
Pru senhor ficar sabendo
Que eu não sou a mulher
Que o senhor tá entendendo.

Se o senhor continuar
Com os seus disbiques atrevidos
O jeito que tem é contar
Tudo, tudo a meu marido.

O senhor fique sabendo
Que com seu discaramento,
Não faz nunca eu quebrar
O sagrado juramento
Que eu jurei nos pés do altar,
No dia do casamento.

Se o senhor é inxirido,
Encontrou u’a mulher forte,
O nome do meu marido
Eu honro até minha morte!

Sou de vossa senhoria,

Sua criada.

MARIA.”

– Doutô! Doutô mi arresponda
O qui é qui eu tô ouvindo?
Vosmicê leu a carta,
Ou num leu, ta mi inludindo?

– Doutô! Meu Deus! Seu doutô,
Maria tava inucente?
Me arresponda pru favo!

Inocente! Sim, senhor!

Matei Maria inucente!
Pru que, seu doutô, pru que?

Matei Maria somente

Pruque num aprendi a lê!

Infiliz de quem num leu
Uma carta de ABC.

Magine agora o doutô,
Quanto é grande o meu sofrê!
Sou duas veiz criminoso,
Qui castigo, seu doutô!

Qui mizera!
Qui horrô!
Qui crime num sabê lê!




Alphonsus de Guimaraens

Ismália


Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava longe do céu...
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar. . .
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma, subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...




Cecília Meireles

É preciso não esquecer nada

É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta
nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.



Mário Quintana

Os poemas

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de ondee pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro,eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
Porta de Colégio
Angélica

Amanhece
Um novo dia
Outra noite sem dormir
Recordando os momentos
Que eu tive junto a ti
Lembro a porta do colégio
Onde eu te conheci
Um tropeço e os livros que caíram
E ficamos os dois
Completamente sós
Eu nervosa a te olhar
Sentindo que o amor
Nos despertava
Foi na porta do colégio que...
Conheci meu grande amor
Foi na porta do colégio que...
Fiquei te amando assim
Agora não estás aqui
Foi na porta do colégio que...
O tempo ficou pra trás
Foi na porta do colégio que...
Fiquei sempre a te esperar
Será que ainda vais voltar
Se sentavas ao meu lado
Certas aulas de inglês
Eram risos e carinhos
Até o sinal bater
Fim de ano que chegava
E nem podia imaginar
Que mudasses de colégio
Eu nunca mais
Ia poder te ver
O mundo acabou
Eu fugi pra poder chorar
E o tempo passou...
Mas eu me lembro!!!
Foi na porta do colégio que...
O tempo ficou pra trás
Foi na porta do colégio que...
Fiquei sempre a te esperar
A sonhar, a lembrar
A todo momento



Hábeas-corpus
Noel Rosa/Orestes Barbosa
No tribunal da minha consciência
O teu crime não tem apelação
Debalde tu alegas inocência
Mas não terás minha absolvição
Os autos do processo da agonia
Que me causaste em troca ao bem que fiz
Correram lá naquela pretoria
Na qual o coração foi o juiz
Tu tens as agravantes da surpresa
(E) Também as da premeditação
Mas na minh'alma tu não ficas presa
Porque o teu caso é caso de expulsão.
Tu vais ser deportada do meu peito
Porque teu crime encheu-me de pavor
Talvez o habeas-corpus da saudade
Consinta o teu regresso ao meu amor.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

PRODUÇÃO DE TEXTOS DE ALUNOS DO 9º ANO


TEXTOS PRODUZIDOS PELOS ALUNOS DO 9º ANO DE 2007.
SOB A ORIENTAÇÃO DA PROFESSORA DE PORTUGUÊS - ABIGAIL



As queimadas


Quando vejo o sol ardendo,
O tempo seco, as queimadas,
Penso logo com tristeza
Nas pessoas desalmadas.
Seca só traz sofrimento
E são pelo homem causadas.

Quando vejo o sol rachando
Nosso chão,
A nossa terra,
Dá uma dor no coração.
Penso logo nas crianças.
Pra elas vai faltar pão.

Quando vejo o tempo seco
E a água a acabar,
Logo penso nas crianças,
Que sofrem e ficam a chorar
Pela falta de água
Que pode até matar.

Quando vejo uma queimada,
Penso em poluição.
Sinto chegar o momento
Em que toda população
Vai sofrer com a falta de tudo
Até com a falta de pão.

Quando vejo alguém queimando
Nossas matas, sinto medo
De que todo rio seque
Sem ninguém mover um dedo
Achando que para isso
Ainda é muito cedo.

Nádia, Carlos Alexandre, Braz, Antônio Marcos, Cleiton (alunos do 9º ano B).
Escola Estadual Prof. Alfredo Nasser
Araguaína - Tocantins




Traição


A mulher que trai o homem
Não merece ser amada.
Tem de ser logo, depressa
Pelo homem abandonada
Pra viver na amargura,
Sozinha e maltratada.

O homem que é traído
Não descobre a traição.
Descobre pelo amigos
A mulher de mão em mão.
Nesse dia, o casamento
Esborracha-se no chão.

O homem que é traído
Anda besta e repetindo
Que a mulher é vadia,
Porque anda se iludindo.
Com qualquer "cabra" safado,
Ela fica o traindo.

A mulher que trai o homem
Não pode ter o perdão.
Fica o dia inteiro na cama
Vendendo seu coração.
Chega em casa e não quer nada
Com o amor do "cornão".

Quando é o homem que trai,
Ninguém dá satisfação.
Vira a cara dizendo
Que é coisa de garanhão.
Só é feio pra mulher
Esse assunto de traição.

O casal que briga muito,
Não divide obrigação,
Cada um sai para um lado
Sem nenhuma explicação,
Esquece o compromisso
E abandona a missão.

Achar que é certo para o homem
E que pra mulher é defeito
Essa história de traição,
Demonstra seu preconceito,
É antigo e não merece
Na sociedade ser aceito.

Traição é coisa feia,
Não é pra gente de bem.
É tão fácil separar
Quando já não se quer bem!
Pois nessa vida sabemos
Que ninguém é de ninguém.

Ariosto Júnior, Wesly, Josimar, Wallison Pereira, Michael (alunos do 9º ano B). Escola Estadual Prof. Alfredo Nasser
Araguaína - Tocantins


Violência doméstica contra a mulher

A mulher trabalhadora

Em sua casa chegava,
Mas o marido grosseiro
Grandes bofetes lhe dava,
Falando "sua vadia,
Por onde você andava?"

Ela apanhava calada,
Porém o seu coração
Estava cheio de coragem
Procurando a solução
Pra aquela brutalidade
Ter um dia extinção.

Aquela pobre mulher
Tinha amor no coração.
Quando não estava apanhando,
dava ao marido o perdão.
Tudo voltava ao normal
Com a sua compaixão.

Mas a paz durava pouco.
Logo ele se esquecia
Que tinha uma boa esposa,
Nela de novo batia,
Aproveitando a fraqueza
Que no corpo dela havia.

Quando estava na rodada
Dos amigos a conversar,
Dizia com muito orgulho
Para todos escutar
Que mulher que é mulher
Gosta mesmo de apanhar.

E o tempo foi passando,
Ela cansou de apanhar.
Teve uma idéia brilhante.
"Ele agora vai pagar.
Vou convidar as mulhers
Que não gostam de apanhar.

Vamos criar uma Lei
Pra acabar com a violência
De homem contra mulher.
Vamos tomar providência,
E o homem vai aprender
A tratar mulher com decência".

Muito tempo demorou.
O dia chegou então.
Na vida de uma mulher
Foi banido o valentão.
Pois em mulher não se bate.
Esta é uma grande lição.

Porque quem bate em mulher
Deve estar mal informado.
a Lei Maria da Penha
Deixou todo mundo empenhado
Em denunciar o homem
Que cometer o pecado.

Deus fez a mulher apenas
Para amar e ser amada,
Trabalhar e ser feliz
Tendo de ser respeitada,
Tratando o marido tanto
Quanto ela é tratada.

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