sexta-feira, 6 de novembro de 2009

DIA DOS PROFESSORES

Os professores da Escola Alfredo Nasser tiveram um momento de descontração para interagir fora do ambiente escolar. A comemoração ao Dia do Professor foi um jantar no restaurante Gril de Araguaína. A presença da Supervisora da Aceleração da Aprendizagem Maria José foi brilhante. Obrigado por ter vindo!
Creuzeny e Maria José

Na sala de aula, os alunos prestaram sua homenagem ao Professor com muita festa e doces.




O NOVO PROFESSOR

Já fazia algum tempo que as aulas haviam começado e ainda estávamos sem professor de Matemática. Sabe como é. Os alunos sempre gostam de uma aula vaga e a falta de um professor é veladamente comemorada. Porém, estávamos na 7ª série e a maioria de nós sabíamos que, se ficássemos muito tempo sem aulas de Matemática, seria um transtorno: o novo professor teria de correr com a matéria; provavelmente teríamos que repor aulas; o período de provas bimestrais estava próximo...
Finalmente, a notícia. No dia seguinte começaria um novo professor. Ansiedade. Expectativa. Curiosidade.
No dia seguinte, aula de Matemática. O professor entrou e houve assim um mal-estar. Não sei se estou empregando a expressão correta, mas foi uma coisa esquisita. Evitávamos nos olhar, mas queríamos nos olhar. Queríamos falar, mas estávamos mudos. Nossa atenção estava no professor. Ele era negro.
Nunca me considerei uma pessoa racista, porém a presença daquele professor negro foi de tirar o fôlego. Ele, por sua vez, não notou, ou fez que não notou, a nossa reação algo espantanda. Normalmente apresentou-se. Métodos, sistemas, livro que adotaria. Ao final nos perguntou se alguém tinha alguma questão a propor, mesmo que fosse fora da matéria; qualquer pergunta, mesmo pessoal. Eu sentia que a intenção dele era criar um clima mais descontraído. Mas nada. Silêncio total.
Como ninguém se manifestava, o professor propôs uma brincadeira: faríamos perguntas escritas anônimas. Poderíamos fazer perguntas dirigidas ao professor ou a qualquer colega da classe. Um de nós recolheria os papéis dobrados e o professor os leria. Achamos interessante a idéia e a brincadeira começou.
De início, as questões foram bem amenas.Os rapazes dirigiram algumas perguntas às meninas, sempre em tom de brincadeira e elas também fizeram alguns comentários tentando embaraçar os garotos.
Foram poucas as perguntas dirigidas ao professor e quase todas ligadas à sua formação profissional, experiência como professor, primeiras impressões sobre a escola e a comunidade. Perguntas diplomáticas e respostas polidas.
Houve a segunda e terceira rodada de perguntas. De repente, a tempestade. Intimamente eu sentia que as questões estavam tornando-se mais indiscretas e, a qualquer momento, alguém cometeria descortesia com o professor.
E aconteceu. Veio, sei lá de onde, uma pergunta:
- Professor, por que seu cabelo parece molinhas?
Confesso que gelei. É agora, meu Deus! A classe, que aos poucos conseguira descontrair-se, ficou novamente tensa. Um travo na garganta. Eu e quase toda a turma, tenho certeza, sentíamos as paredes nos sufocarem.
O professor, calmamente, respondeu:
- Eu acho que a resposta é evidente. Meu cabelo parece molinhas, porque é carapinha. Eu sou um homem negro e, como quase todos os de minha raça, tenho cabelos crespos. Aliás, gostaria de dizer que não vejo motivo algum para me envergonhar da minha raça e do meu tipo físico. Sou um professor de Matemática como qualquer outro. Mais que isso, sou homem digno, trabalhador e responsável, como os pais de vocês são.
Como todos os de minha raça, vivo neste país e aqui trabalho, contribuindo para o progresso da sociedade brasileira. Sou brasileiro, somos brasileiros, todos temos direitos e deveres. Se tivermos que ser felizes, assim o seremos não importando a cor que tivermos ou as nossas origens. No Brasil, acima de nossas origens raciais, devemos nos sentir todos brasileiros, com direitos iguais, oportunidades iguais e, o que é principal, todos nós merecemos respeito enquanto cidadãos.
Não posso dizer como os meus colegas entenderam aquelas palavras. Em mim, elas tocaram lá no fundo, não pude deixar de olhar em torno, passear os olhos pela sala e ver que ali estavam sentadas várias pessoas de origens diferentes. Eram descendentes de europeus, japoneses, árabes, africanos, sei lá. Eu mesmo, de repente, percebi que não era tão branco como sempre me imaginei. Não importa. Ali sentados, éramos todos, como disse o professor, brasileiros. Estávamos na escola porque nós e as nossas famílias entendíamos que estudar é importante. Todos nós nos preparávamos para o trabalho e para a vida. Se temos igualdade de propósitos é porque somos iguais na essência.Sei muito bem que existem muitas e muitas pessoas que discriminam outras pela cor, pela raça, mas sei também que cabe a nós, brasileiros originários de várias raças, lutar para que a visão das pessoas seja diferente.
Eu confesso que nunca havia pensado em tudo isso com profundidade. Também confesso que muito pouco posso fazer para que o racismo não seja um fator a separar pessoas. Mas você já pensou se todos nós fizermos um pouco? Situações como aquela que sentimos no início da aula,quando entrou o nosso professor negro, jamais se repetiriam. Hoje digo nosso professor e com prazer. Nosso professor, Aquele que num primeiro momento nos pareceu um estrangeiro, um intruso, nos fez ver que estávamos errados. Enquanto nos ensinou, foi nosso professor, assim como são nossos todos aqueles que conosco repartem alguma coisa, como amizade, tarefas, carinho, amor, conhecimento, esperança, trabalho luta...
O Brasil é a nossa gente, e a nossa gente, não importa a raça, nos pertence.

Salve 13 de maio? - Publicação do Grupo de Trabalhos para assuntos Afro-brasileira. Secretaria de Educação de São Paulo.Edição de 1987

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